quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vida Longa ao Teatro Oficina!

Resposta à certa matéria preconceituosa de repórter imbecil publicada em jornaleco de Porto Alegre:

Ao invés de desperdiçar seis horas da minha vida fazendo qualquer outra coisa, ontem optei por dedicá-las a assistir à nova loucura do Teatro Oficina: a estréia nacional de "Os Bandidos", de Friedrich Schiller, comemorando 50 (leram bem? CIN-QÜEN-TA!!!) anos de existência. E olhem: não me arrependi.
Zé Celso, encabeçando tudo, conseguiu em seis horas, dentre várias qualidades de seu espetáculo, destruir certas idéias que vinham povoando meu pensar ultimamente: a de que apenas os jovens artistas são capazes de produzir uma arte essencialmente contemporânea. Em seis horas, Zé Celso provou ser tão juvenil quanto eu. Ou mais. "Os Bandidos" consegue ser atual e crítico e sarcástico e sublime e irônico e violento e debochado e moderno. Tudo o que eu acredito que um espetáculo teatral deva ser. Claro que me cansei, claro que achei algumas cenas longas e/ou desnecessárias, mas se a potência do discurso do Oficina não for capaz de derrubar estas "falhas", então o teatro realmente perdeu sua função vital: a de provocar a sensibilidade e o raciocínio do ser humano.
Cenas com especial destaque na minha memória: o duelo entre Mary Stuart e Elizabeth, bem como o embate entre Cosmos e Dionísio; a invasão do Vaticano (belíssima!); o pôr-do-sol; a linda atriz -
se não me engano... - Sylvia Prado, que interpreta Ariadne Brasília, (ok, não é uma cena, mas foda-se!); e o final - emocionante prá caralho!

Ficam ainda as palavras de Zé Celso para que possamos refletir: "Uma peça somente é teatro prá valer se atinge a todos, supera os gêneros, as faixas etárias, e chega ao grão da nossa condição de humanos. Por uma questão maior do que a justiça social, a da ecologia humana e estética, nós do teatro precisamos, como atuadores, sentir o pulsar desta condição universal que existe no armário, guardada por cada um de nós."

PS: Fica também, prá mim, bem particularmente, a impressão do quanto Porto Alegre ainda se mantém província, daquelas bem xucras, incapazes de se permitirem experimentar o novo...

3 comentários:

Aline Grisa disse...

Compartilho em gênero, número e grau com as palavras do Daniel, acrescento a cena do ensinamento ao Papa (aqueles chicotes de camisinha são o máximo!)como inesquecível e faço questão de destacar meu repúdio ao público presente ou ausente ( ou seja, todos aqueles que foram embora antes do intervalo e também aqueles que não se derão nem o direito de festejar ao final, saindo correndo ou respondendo com palmas frias...)Ai, Porto Alegre às vezes me envergonha! Província!
Bem, mas talvez o teatro celebrativo seja apenas para alguns...ARDOR! EVOÉ!!!

Anônimo disse...

Faço minhas algumas das palavras citadas (não são todas visto que acho que o público aplaudir friamente ou não, ou ir embora, ou enfim, o que for que seja, é uma reação, assim como é nossa reação de público de aplaudir entusiasmadamente, são opiniões, apenas, reveladas em aplausos ou na falta deles, não algo da província ou do centro do país.)
Achei realmente o espetáculo mais que um espetáculo... É uma celebração a vida e ao teatro, uma festa de amor a arte. Iconoclasta ao mesmo tempo ritualístico, irreverente, antropofágico, multimídia, tecnicamente perfeito, desconstruidor de pré-conceitos, inclusive dos meus, assitir ao espetáculo "Os Bandidos" foi um aprendizado que jamaios vou esquecer. O Oficina nos mostra um grito apaixonado de quem faz da arte sua arma, uma arma que não mutila, que não rouba, que não mata, uma arma que despeja vinho em nossos corpos/almas/mentes, complexos que somos, unos, inteiros, intensamente vivos.
Nas palavras de Schiller reverenciadas por Beethoven em sua Nona Sinfonia, magistralmente entoadas no espetáculo do Oficina:
"Ó, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegre, formosa centelha
divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente
dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior
Tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher
amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém
conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais
humildes
E ao querubim que se ergue
diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis
corram
Através do esplêndido espaço
celeste
Se expressem, irmãos, em seus
caminhos,
Alegremente como o herói
diante da vitória.
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o
mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante
Dele?
Mundo, você percebe seu
Criador?
Procure-o mais acima do Céu
estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele
mora!"
Muito obrigado Zé Celso! Muito obrigado Teatro Oficina! Vida longa ao teatro feito da paixão!

Aline Grisa disse...

Minhas palavras com relação ao público valem para o primeiro dia de apresentação, onde a maioria não se deixou experenciar e isso sim é provinciano.
Porém, "eles" sempre falam que o público gaúcho é mais frio e neste caso continuo concordando com o que "eles" dizem...

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