domingo, 12 de outubro de 2008

Celso Frateschi não é mais presidente da FUNARTE

Carta Pública de Celso Frateschi:

O TRANSATLÂNTICO FANTASMA

Digo não!

Aceitei assumir a presidência da Funarte por acreditar na
possibilidade de contribuir na construção de políticas públicas para
a área cultural. Não vim para essa missão participar de brigas
intestinas, pois acredito que o país espera e precisa de respostas
concretas para estimular o nosso desenvolvimento cultural. Digo isso
tendo como foco muito mais o conjunto de nossos cidadãos do que a
nossa comunidade artística. Portanto, o movimento articulado de
alguns funcionários e de alguns setores do Ministério da Cultura para
desestabilizar minha gestão na presidência da Funarte não encontrará
nenhuma resistência de minha parte.

Fui convocado pelo ex-ministro Gilberto Gil para colaborar com o
governo Lula, o que muito me honra e enobrece. Já havia sido
secretário de cultura duas vezes em Santo André, junto com Celso
Daniel, e em São Paulo, com Marta Suplicy. Experiências das quais
tenho muito orgulho de ter participado.

Sou um artista e vim para a Funarte com o mesmo propósito de me
envolver num projeto coletivo de construção de políticas de cultura
que rompesse, da mesma forma que o governo Lula rompeu, com os
limites sociais e regionais de atenção e atendimento governamental.
Durante esse ano e meio de trabalho, procuramos mudar alguns
conceitos apontados e acordados com o ministério:

1) Descentralizar as atividades da Funarte, deixando de lado a sua
característica histórica de um "cariocacentrismo" radical. O antigo
Secretário da Cultura Aloysio Magalhães dizia que a Funarte era um
grande transatlântico encalhado na Rua Araújo de Porto Alegre. Deram-
me a tarefa de pensar as atividades da instituição em escala
nacional, como deve ser, e fazer zarpar o "transatlântico encalhado"
por muitas décadas.

2) Institucionalizar nossos programas, tirando-os da fragilidade dos
mecanismos esquizofrênicos da Lei Rouanet.

3) Reinventar institucionalmente a Funarte.

4) Responder aos desafios colocados por nossa produção artística
nacional, dentro de conceitos definidos pela gestão Gilberto Gil.

5) Implantar políticas estruturantes em nível nacional para todas as
áreas artísticas.

Avançamos muito, apesar da conjuntura às vezes adversa, tanto no
Ministério da Cultura quanto na própria Funarte. No Ministério,
vivemos um tempo bastante comprometido pela greve, e depois
enfrentamos a troca do ministro. Já na Funarte, além da conjuntura,
temos problemas estruturais como o seu desenho administrativo
extremamente presidencialista, o histórico da instituição truncado
pelo governo Collor e desde então comprometida em sua missão
institucional. O "transatlântico"

encalhado "que Aloysio Magalhães definia, em razão do longo tempo
empacado no Rio de Janeiro, deteriorou talvez definitivamente, com o
abandono e fragilidade da quase totalidade de seus "marinheiros".
Como num navio fantasma, parte de sua tripulação, também quase
fantasma, vive de assombrar o novo e de expulsá-lo de seus domínios.
A carcaça carcomida dessa embarcação serviu durante muitos anos de
alimento aos ratos da burocracia e do corporativismo. Gordos, esperam
a sua aposentadoria. Que tenham um bom apetite.

Neste final de semana, fui alvo de dois ataques destes piratas do
caribe. Primeiro uma carta da ASSERTE (Associação dos Servidores da
Funarte), que terá em seguida uma resposta detalhada para recuperar a
verdade e defender aqueles inúmeros funcionários da Funarte que
tentam heroicamente desencalhar essa instituição. Funcionários esses
que são "representados" por uma associação que os ataca no que eles
têm de mais sagrado, que é a missão de servir ao público.

O outro ataque veio pelo jornal O Globo e utilizou um repórter muito
bem formado na arte de dizer meias verdades, de iludir o
entrevistado, de se negar a estudar documentos que venham desmontar a
sua tese mentirosa.

Que se sustenta em apenas partes de uma documentação editada e
conseguida criminosamente. Que entrevista para um tema e usa as
respostas para outro.

Ou seja, um pequeno aprendiz de Goebles, que acredita que a mentira
soberana passa por verdade. Esse jornalista sequer iria me
entrevistar. E só o fez de "mentirinha", pois, pelo que tudo indica,
a matéria já estava editada na véspera de nosso contato. O repórter
se negou totalmente a consultar os documentos que revelam de forma
cabal as mentiras de sua matéria e mostram a regularidade dos
trâmites legais dos processos dentro da Funarte. Também não levou em
consideração as informações prestadas pela Petrobrás que atestavam o
interesse da estatal pelo projeto desde agosto de 2007, uma vez que
se tratava de um projeto de continuidade. O repórter mistura, de
forma deliberada, os procedimentos para confundir o leitor e passar a
idéia de irregularidade. Soma, apenas quando lhe interessa, de forma
capciosa, os tempos de tramitação dos processos dentro da Funarte com
os tempos em outras instâncias do Ministério.

A verdade é que a Funarte regularizou o trâmite dos processos da Lei
Rouanet. Atualmente o processo leva no máximo 21 dias para ser
analisado pela Funarte e isso fere toda uma indústria de
atravessadores que "facilitavam" as aprovações que eram de seu
interesse. Uma legião de lobistas perdeu o emprego e isso os
perturba. A profissão dos que "acompanhavam" os processos não tem
mais nenhuma necessidade de existir. E isso aconteceu porque mexemos
num nicho que resistia desde a implantação da Lei Rouanet, que era o
setor de análise dos Pronac. Ampliamos o número de pareceristas,
treinamos e dinamizamos a gestão, e hoje não existem mais
dificuldades, fazendo com que as "facilitações" percam o sentido de
existir. Isso também perturba.

Procurei, durante todo esse período, cumprir com a missão que me foi
confiada. Mas não tenho mais instrumentos, nem meios, nem vontade de
tentar seguir nessa viagem estagnada, nessa cidade maravilhosa onde o
olhar para o nosso país parece limitar-se aos braços do Cristo
Redentor. Declino da presidência da Funarte, evidentemente não pela
matéria de O Globo, pois na minha longa vida pública, já enfrentei
outros processos difamatórios que se mostraram vazios como esse que
está em curso. Saio porque se caracterizou uma articulação espúria
que eu não tenho o menor interesse de enfrentar. Aceitei essa
presidência para trabalhar positivamente e avançar na implantação de
mecanismos republicanos de fomento e financiamento. Para federalizar
as nossas ações e trabalhar com o conjunto dos entes federativos na
construção do Sistema Nacional de Cultura. Para ajudar implantar o
Programa Mais Cultura que é realmente o que interessa e não para
perder o meu tempo em querelas de vaidades pessoais.

Agradeço carinhosamente aos inúmeros funcionários da Funarte que se
empenharam nessa nossa missão e espero que sobrevivam a essa legião
de gasparzinhos que habitam o belo e vistoso Palácio Capanema.

No meu primeiro dia de trabalho na Funarte, durante o almoço com
Pedro Braz e Sergio Sá Leitão, fui abordado pelo jornalista Ancelmo
Gois também do Jornal O Globo. A sua única pergunta foi se eu seria o
paulista que teria vindo tomar a Funarte. Surpreso com a grosseria,
demorei dois segundos para responder, o que foi suficiente para ele
emendar: "Pois fique sabendo que, para mim, paulista bom é paulista
morto". Virou as costas e foi embora. Felizmente o Rio de Janeiro não
se traduz no preconceito dessa figura.

Que esses descansem em paz!

Toda a minha formação tem como ponto de referência o Teatro. Foi pelo
teatro que entrei em contato com grandes mestres da humanidade. Foi
pelo teatro que fui preso ainda menor de idade pela ditadura.
Estudando grandes textos entendi a dialética da grandeza e da
pequenez da alma humana. Foi o teatro que me levou às minhas
experiências exitosas em Santo André e São Paulo. E finalmente, é o
teatro que me clarividencia situações nebulosas como essa, não pelo
discurso, mas pelo ato.

Eu resolvi agir sim!


(Postamos anteriormente a denúncia do Jornal O Globo sobre possíveis maracutaias... E, para não jogarmos apenas com um lado da moeda, ai está a carta de Celso Frateschi... Reflitam sobre o assunto e tirem suas próprias conclusões)

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