terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ode e perguntas ao teatro paulistano

Pois é... To em São Paulo desde sexta-feira passada e ficarei até a sexta de Carnaval. Vim passear, conhecer melhor a cidade, assistir a espetáculos de teatro locais (ou não). Ou seja, to aberto a (quase!) tudo que a cidade estiver me oferecendo.

A primeira grata surpresa foi descobrir que a maioria dos espetáculos que eu me propus a ver estão com lotação esgotada até eu ir embora... "A Alma Boa de Setsuan", com a Denise Fraga (esgotado até 29/02); "Corte Seco" com o Eduardo Moscovis" (sem ingressos até 06/03); "Kastelo", o mais novo trabalho do Vertigem (que estreou na última quinta e não tem mais nenhum ingresso prá toda a temporada!!!). Péssimo prá mim que vou perder, mas excelente prá eles.

Os atores de "Kastelo" representam pendurados na fachada da sede provisória do SESC Avenida Paulista

Primeira pergunta: Qual espetáculo em Porto Alegre - excetuando "Tangos & Tragédias" - está conseguindo vender seus ingressos antecipadamente a ponto de lotar todas as as sessões?
Segunda pergunta: Mas será que eles estão lotando porque são a Denise Fraga, o Eduardo Moscovis e o Vertigem?

Bem, nestes últimos dias, pude ver 3 espetáculos: no sábado, "Drive Thru", dos meus queridos amigos gaúchos Teatro Enlatado (ótimo público); o carioca "Festa de Família" no domingo (quase lotado); e, hoje, "Memória da Cana", não à toa uma das peças mais comentadas da safra 2009 de São Paulo. O "Memória..." foi o único dos três que tinha pouca gente na plateia (aproximadamente 15 pessoas). Uma lástima, pois a peça é tri boa e o Espaço dos Fofos Encenam muito aconchegante.

"Memória da Cana", de Newton Moreno, é inspirado em "Álbum de Família" de Nelson Rodrigues

Terceira pergunta: O público fraco do "Memória..." foi devido ao fato de ser uma segunda-feira ou à longa temporada bem sucedida que eles tinham realizado no ano passado?
Quarta pergunta: Pensando que vários grupos paulistanos estão conseguindo manter espaços culturais com uma programação experimental e ousada, por que é tão difícil a cidade de Porto Alegre se inspirar e evitar que grupos como o Depósito de Teatro percam seus locais de trabalho? Não fosse o projeto da Usina das Artes, a situação seria ainda mais complicada...


Fora isso, finalmente conheci o "complexo da Praça Roosevelt", que é realmente invejável: gente interessante circulando e conversando até bem tarde, espetáculos muuuito atraentes se apresentando por lá e, principalmente, a vontade de que uma estrutura assim conseguisse se firmar de uma vez por todas em Porto Alegre.

Quinta pergunta: Será mesmo tão difícil?

Espaço dos Parlapatões, que acabou de receber os espetáculos da gaúcha Santa Estação

Antes de partir, quero ainda apreciar dois trabalhos muito comentados por aqui: "Anatomia Frozen" (da mesma equipe que criou o elogiadíssimo - não-sei-porquê! - "Agreste") e "Comunicação a uma Academia" (com 'atuação impressionante de Juliana Galdino', segundo a Veja São Paulo...).

Juliana Galdino está indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz por "Comunicação a uma Academia"

Abraços,
Colin

Um comentário:

Rodrigo Monteiro disse...

Oi, Colin!

Quase nunca vou a São Paulo, mas frequento o teatro carioca sempre que posso. E a realidade é quase a mesma da capital paulista, apenas me dando sempre a impressão de que, no Rio, as coisas mais ousadas são bem mais escassas.

Também me faço as mesmas perguntas e só encontro uma única resposta: o comportamento do público.

Ir ao teatro, no Rio, é um hábito como também ir ao cinema, tomar um chopp com os amigos, fazer happy hour. O gaúcho culturalmente não age assim: ao sair do trabalho, vai pra casa, faz programas caseiros, quando muito um chimarrão na vizinha.

Mas tenho notado que a coisa está mudando. Há um número muito crescente de pessoas que vão pela primeira vez ao teatro. Acho que é por isso que eu gosto tanto de teatro comercial: é vibrante uma platéia lotada de pessoas com cara de quem se arrumou horas no cabelereiro para estar ali, sinal de, para eles, é um programa importante. Fico muito feliz com isso. Adorei saber, por exemplo, que o veterinário da minha gata, foi três vezes ver o Solos, que nem é comercial. É demais!

Acho que é por isso também que mantenho o blog. É terrível quando vou ao teatro e vejo as pessoas entediadas ou só fazendo força pra gostar porque, no palco, está a filha da vizinha, a afilhada ou o neto. Ou, então, quando é nítido que aquele "tiatrinho até que foi legal pelo que se esperava dele".

É indispensável que a classe perceba que um mal teatro não afeta apenas a sua própria bilheteria, da qual poucos grupos vivem devido às leis de incentivo e fumproartes, mas a valorização do teatro como um todo. Porque o São Pedro, esse, sim, continua vendendo ingressos antecipados. E tanta coisa ruim vai pra lá, lota e é aplaudido... Lá não é necessário garantir público: já existe o público fiel.

Que ótima proposta de discussão esse teu post. Obrigado!!

Boa viagem ae.

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