quinta-feira, 17 de junho de 2010

Qual o limite da arte?


Hoje, na aula da pós-graduação em Artes Cênicas, ficamos discutindo sobre os limites da arte. Tudo começou com a colocação de uma colega, Maíra Castilhos, que falou daquela polêmica obra de arte na qual o artista deixou um cachorro preso numa coleira por dias a passar fome. Eu, discordando da ideia, defendi o conceito. Neste momento, outra colega, Desirée, perguntou: "Sim, mas qual é o limite da arte? Daqui a pouco tu vai me pedir prá te dar um tiro e isso vai ser arte?".
Pois bem, eis que descubro que sim, é arte, e já feita... há 39 anos!!!

Chris Burden, performer americano, pediu que um assistente lhe desse um tiro a poucos metros de distância, na performance "Shoot". Depois disso, Burden foi encaminhado a um psiquiatra, como informa a nossa "amiga" wikipedia:

"(...) the 1971 performance piece Shoot, in which he was shot in his left arm by an assistant from a distance of about five meters. Burden was taken to a psychiatrist after this piece. Many interpretations have been made regarding this piece. Many saw it as a statement about both the war in Vietnam and the American right to bear arms."

Acho que fica então a muito pertinente questão colocada pela Desirée, a qual, eu incluo: "qual o limite da arte num mundo tão sem limites?"


Um comentário:

Paulo Salvetti disse...

Concordo contigo que seja perturbador pensar sobre o quão radical pode ser a arte. Mas penso que, talvez, a questão não seja propriamente a discussão dos limites da arte, mas do tênue limiar entre a arte e ética que se configura em cada momento histórico.
A performance, em suas configurações dos anos 1960 e 70, tem uma estreita ligação com os fatos que marcaram essas décadas. Foi um tempo de muito ativismo político por conta dos artistas, uma vez que vivia-se um momento em que o posicionamento político era importante para sujeito-pensante. Não só Chris Bruden foi radical. Gina Pane cortou os pés subindo e descendo uma escada com lâminas, Marina Abramovic dispôs uma arma e outros objetos cortantes para que as pessoas pudessem utiliza-los nela, os acionistas de viena vomitaram, defecaram e se mutilaram em ações diversas. Isso tudo não foi em vão, mas se configurou de acordo com um momento em que os limites da arte estavam muito próximos dos questionamentos do limites do homem frente a reivindicação sindical de 1968, frente a guerra do vietnã, etc. Se hoje o nosso mundo tem os limites mais liquefeitos, certamente, temos menor potencial de engajamento e damos mais espaço para a arte institucionalizada do que para o radicalismo. Talvez, em nossos dias, a polêmica criado por alguns artistas (e isso não é um julgamento contra eles)seja mais enfática do ponto de vista mercadológico, tendo em vista o fetiche do rompimento, do que político. Em meio a tudo isso que se pode colocaras questões ligadas a ética. Enfim...coisas a se pensar. abraço!

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