domingo, 26 de setembro de 2010

Peça "In on It" brinca com teatro e mostra jogo de atores


Por Rodrigo Marquez

Não sou muito afeito a escrita em blogs, a fazer críticas públicas no meio virtual ou jornalístico. O Dom da escrita –opinião sobre algo, ou criação de obra minha, é algo que me acomete de tempos em tempos e já se vão longe as tentativas de eu terminar dois roteiros para cinema, e duas peças que comecei a escrever e que tenho idéias ou mesmo tomar coragem e colaborar na criação de textos dramatúrgicos, algo que me porei a trabalhar mais profundamente a partir do próximo ano. Prefiro conversar com os atores, sendo meus amigos, conhecidos ou não sobre minhas impressões sobre as diversas obras artísticas que tenho contato. Mas ao ver hoje no Teatro São Pedro, aqui em Porto Alegre, dentro da programação do 17º Festival Porto Alegre em Cena, a peça “In on It” fui tomado de uma vontade de colocar minhas impressões no papel (opsss...melhor seria dizer nas teclas desse meu teclado de computador).Então vamos lá:

"In on It" foi escrita pelo canadense Daniel MacIvor, e que já está há quase um ano e meio em cartaz no Brasil, prorrogando temporadas paulistas, cariocas e percorrendo uma gama de Festivais e amealhando prêmios pelas brilhantes atuações dos atores. O diretor Enrique Diaz (dos espetáculos Melodrama, Ensaio.Hamlet, sucessos em edições passadas do EM CENA) encontrou um texto que dialoga naturalmente com seu estilo de encenação, adepto da metalinguagem. Escrito por um canadense, o drama traz uma narrativa em três planos — o presente, o passado e a ficção, no caso, uma peça. Brilhantes no jogo cênico, Emílio de Mello e Fernando Eiras — premiado com o Shell carioca de melhor ator — se revezam em dez personagens. Primeiro, eles são dois homens discutindo como levar um texto ao palco. A seguir, vem o espetáculo, sobre separação e morte. O ciclo se fecha com a exposição das questões pessoais da dupla, que reconstitui uma relação amorosa. Ao servir-se só da iluminação e de duas cadeiras, o diretor busca o mínimo e extrai o máximo dos dois atores, em diálogos repletos de humor, ironia e lirismo.

Eu sai do teatro com a legítima sensação de que o binômio invenção e verdade podem mesmo andar juntos. E que Emílio de Mello e Fernando Eiras sabem muito bem como mostrar a sutileza e a força dos medos e das relações humanas. E um jogo constante, onde os atores brincam o tempo todo com o tempo cênico, o que exige uma constante concentração para interligar as três narrativas que se sobrepunham, mas nunca interferem na exímia interpretação dos dois atores, compostas de pequenos gestos sustentados e precisos na maioria dos momentos, e olhares seguros e que dizem muito da ação que se está apresentando na cena. Ambos com pequenos gestos faciais vão de uma criança a um senhor que é avisado que está doente, e ele acha que vai morrer, passando por namorados com personalidades fortes que transformam isso numa relação de profissionais amigos no momento presente, comentando suas próprias interpretações.

Os atores param, mudam e imaginam novas cenas o tempo todo e brincam e me atraem com esse olhar para o simples e complexo da arte teatral, do fazer teatro. Pode ser difícil falar de temas com o que se espera da morte e o que se perde quando as relações humanas fracasam, mas o texto não provoca só devaneios e lágrimas. É também descontraído, ágil e muito divertido. Os atores jogam o tempo todo com a liberdade que o teatro oferece para falar de assuntos como a brevidade da vida. " Será invenção ou é verdade? É o que você quiser", dizem em determinado momento do espetáculo (ou como diz o personagem de Fernando Eiras “isso não é um espetáculo é uma peça de teatro apenas”)

Em outro momento, é a importância de aproveitar o "presente" que ganha vez. "Se você parar de pensar um pouco, vai se dar conta de que já tem alguma coisa acontecendo."

Fico Feliz de ter visto essa peça, fechando o meu Festival onde só puder assistir há três espetáculos - pelo volume de trabalhos e produções artísticas que me encontro, de ensaios e produção final do mais novo espetáculo do nosso grupo Teatro Sarcáustico, “Wonderland e o que M.Jackson encontrou por lá”, mas sei por experiência de já estar passando pelo meu 13º Em Cena e de outros festivais, que mais vale assistir apenas um ou dois espetáculos e eles serem ótimos do que você ver sete, oito, nove até 14 peças e nada lhe tocar verdadeiramente, ou dizer muita coisa. Quando “In on It” for para sua cidade, não perca. É uma aula de teatro de interpretação para uma linguagem contemporânea, um aula de construção de um bom texto para teatro, uma aula técnica de como uma excelente iluminação dialoga perfeitamente com a cena e com o trabalho dos atores em si, e um programa perfeito para aqueles que procuram o teatro como uma boa diversão de final de semana.

Sobre o autor

O canadense Daniel MacIvor, 1962, é ator, escritor, dramaturgo, diretor de teatro e cinema.
Iniciou o grupo Da Da Kamera em Toronto, onde atuava, escrevia e dirigia.
Recentemente tem escrito e dirigido diversos filmes independentes.
Há um Blog interessante atualizado constantemente onde fala de seus trabalhos e do seu dia a dia.
http://www.danielmacivor.com


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