terça-feira, 30 de março de 2010

Comentário sobre Homem Que Não Vive da Glória do Passado

Fui ver a nova peça da Cia. Espaço em Branco, Homem Que Não Vive da Glória do Passado, com direção e atuação de João de Ricardo e gostaria de fazer um comentário rápido sobre a peça, pois ela é necessária de se ver; por isso, gostaria de dividir minha opinião, pois acho que a obra faz perguntas muito pertinentes a nós que fazemos teatro. Confesso que ainda estou digerindo a peça, o que é bom, pois para mim, a experiência teatral não deve se resumir ao tempo da peça. João consegue mais uma vez (como em Teresa e o Aquário) borrar as fronteiras entre as artes, contando a história de um homem trancado por vontade própria em sua casa apenas acompanhado de suas tecnologias caseiras, até que um dia descobre que todas as mulheres do mundo morreram (me lembrou o filme Cloverfield, a visão de um acontecimento fantástico/catastrófico pelo zoom de uma pessoa comum). A Espaço em Branco é, pra mim, a Companhia que mais traz um teatro de vanguarda para Porto Alegre, uma cidade acostumada tanto a um teatro que pouco provoca e discute. A peça “Homem Que Não Vive...” não inova muito mais que sua antecessora (mas quem se preocupa com isso aqui por esses lados do sul não é?), mas não por isso perde seu caráter provocativo: João de Ricardo nos pergunta no começo da peça o que viemos fazer ali. Você já se fez essa pergunta antes de entrar em uma peça? Eu nunca, foi a primeira vez que fiz, pela voz do ator. Tive o privilégio de ser um dos vinte primeiros a assistirem aos vinte primeiros minutos de peça enquanto o resto do público espera fora da sala (acho que o resto da peça deveria continuar ocorrendo naquele mesmo lugar devido à proposta da peça, mas depois desse começo somos levados a ver a peça da platéia como em uma peça “clássica”). O que João - não só ele, mas toda a sua equipe - traz à cena é uma obra que incomoda as almas mais acomodadas: será ele mesmo em cena ou um personagem? A performance/atuação de João não se preocupa em responder isso, eu não me preocupo mais em responder isso. Cheio de referências do cotidiano televisivo, as cenas do espetáculo dialoga com o público em outros níveis enquanto ocupa nossos olhos e ouvidos com lindas imagens e sons. Não vou falar sobre cenário ou figurino, o que gostaria é passar uma visão geral da peça; até porque quando forem até lá verão tudo isso, pois, como escrevi, vocês devem ir. Bom, sem me alongar mais, pois isso aqui é um Blog: vão ver a peça! Aliás, vão ver todas as peças, quadros, livros, filmes, performances, shows, etcs que puderem. Não censurem nada, é isso que a Cia. Espaço Em Branco me diz.

por Ricardo Zigomático

Teatro de Câmara Túlio Piva. Rua República, 575, Cidade Baixa. Sexta e sábados, às 21h e domingos às 20h. R$ 20,00. Até 11 de abril.

6 comentários:

Colin disse...

Adoro o trabalho do João tb e confesso que sai um pouco decepcionado com a encenação, principalmente por ser um dos "não 20 primeiros"... Acredito que essa primeira parte do espetáculo convida aqueles que estão a ver peça pela TV a ir embora sem pestanejar. Mas eu fiquei! E gostei de quase tudo que vi: o João, aparentemente, continua o mesmo provocador de sempre! Vídeos muuuito interessantes e provocantes, textos ferinos e performance no mínimo inquietante. Mas (merda! eu odeio comparações!) ainda fico com o Teresa e o Aquário, que me guiou vertiginosamente prá um teatro que não vemos ser feito aqui em Porto Alegre. Prá mim, "O Homem..." cai na mesma questão que suscitei no post anterior: auto-plágio ou auto-referência à Teresa e o Aquário?!
Reflitamos. Debatamos.
Que grupos como a Espaço em Branco, o Sarcáustico e tantos outros por aí continuem questionando as pessoas!!!

Anônimo disse...

O problema é ver todas as peças, quadros, livros, filmes, performances, shows, etcs. Do meu singular solíptico ponto de vista "Teresa e o Aquário" é uma daquelas obras que tu diz "daqui a dez anos isso será importante" ou será nessa época que tu vai entendê-la em essência e extensão. Pelo menos aconteceu comigo. Nem por isso vou com menos intenção (expectativa? tento anular para não estragar) para "Homem que não vive...", enquanto aguardo que a Teresa dê suas caras para eu tentar entendê-la enfim.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

=D
Colin
aparece la pra ver a primeira parte!
aquele dia te disse pra tu chegar junto e nem entendi por que tu foi pro lado da TV
agradeco os comentarios dos colegas e sim
para alem de qualquer debatido de funcao ou nao da arte, expandir as mentes e os coracoes , provocar discucoes, criar zonas insuspeitas de cognicao me parecem essencias ao ato artistico
abracao!

Unknown disse...

(num teclado sem acentos....)

Colin disse...

Vou sim, João; acabei não entrando pq a Patrícia me segurou (hehehehe) Mas quero mesmo ir vê-los novamente! Abraço

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