quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Kiss Bill - comentário


Tinha me planejado para postar aqui no blog um brevíssimo comentário sobre "Kiss Bill", o espetáculo da coreógrafa portuguesa Paula de Vasconcelos. que "abriu" o Porto Alegre em Cena deste ano anteontem. Porém, lendo o 2º Caderno da Zero Hora de hoje, me deparei com um texto escrito pelo coreógrafo Airton Tomazzoni sobre o espetáculo supracitado; texto este que exprime os mesmos pensamentos que tive, porém utilizando palavras muito melhores. Por isso, faço 100% minhas as palavras do Tomazzoni:




"Kiss Bill" x "Kill Bill": entre armas e beijos

A releitura de uma obra já consagrada e popularizada é sempre uma enorme cilada, e as comparações serão sempre inevitáveis. Kiss Bill, espetáculo que abriu na terça-feira à noite o Porto Alegre Em Cena, é assinado pela coreógrafa portuguesa radicada no Canadá Paula de Vasconcelos e investe numa paródia ao díptico Kill Bill, do cineasta americano Quentin Tarantino. Estão lá os personagens. Estão lá as músicas e as canções (aliás, um dos melhores momentos é Bang Bang, na voz de Sylvie Moreau). Está lá a violência. Está lá o cinema, pelo menos nos verborrágicos diálogos.

Com esses elementos, a montagem consegue fazer graça com imitações dos trejeitos de ninjas, com a literalidade das canções traduzidas em gestos óbvios e em atos de violência simulada. Destaque para a cena em que um casal brinca com a onomatopeia das diversas armas que vão permitindo fazer um cardápio com alternativas para se matar o companheiro. O universo de Tarantino está lá. Mas para quê?

A coreógrafa e diretora parece olhar o universo de Tarantino de cima, com superioridade, e pelas beiradas, como que com temor de pisoteá-lo. Parece estar aí um equívoco da obra. Enquanto o cineasta mergulha e chafurda nos clichês e estereótipos da violência, do universo pulp, da cultura pop, Kiss Bill julga, condena e sentencia tudo isso. Enfim, leva-se muito a sério e perde a oportunidade de construir um espetáculo potente e original. Daí as coreografias são opacas, a obra não consegue convencer da redenção do cruel Bill, de que a natureza (com direito a um gigantesco jardim e muita luz verde) pode salvar a humanidade, nem que uma flor transforma a calculista empresária numa quase adolescente romântica. Rir dos outros é fácil, o desafio do humor está na capacidade de rir de si mesmo.

Fonte: 2º Caderno do Jornal "Zero Hora" de 10/09/2009.

PS: Leiam também o comentário do Renato Mendonça no blog Caco.

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