quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobre o avarento


Fui na estreia de "O Avarento", do Grupo Farsa, muito graças às presenças de dois grandes amigos: a sarcáustica Ariane e seu esposo Marquito. Acompanhei - de longe - os ensaios do espetáculo e pude enfim conferir seu resultado logo ali no Teatro de Câmara.

Pois bem, vou me ater à uma cena do espetáculo, a qual considero ótima, para fazer e propor uma reflexão acerca da própria peça. A cena em questão é a penúltima música, cantada ao vivo pelos atores; aquela na qual descobrimos que Valério é irmão de Mariana, cujo pai rico surge do nada no final da peça prá resolver os problemas de todos. Gilberto Fonseca, o diretor, juntamente com o Marquito, compositor da trilha, brindaram a plateia com uma cena hilária, que ao mesmo tempo que homenageia a devoção do grupo pelo Molière, consegue tirar um puta sarro da situação bizarra criada pelo dramaturgo francês (vale lembrar que hoje em dia, mais de 4 séculos depois de Molière, ninguém mais acredita em Deus Ex machina, né?). Acredito que a ideia foi sublime e gerou um resultado impagável! Em suma, no dia em que eu assisti, a cena foi aplaudida por todos. Excelente!

À reflexão.
Usei a tal cena como exemplo prá dizer o que, prá mim, falta ao restante do espetáculo do Farsa: irrisão de e para com Molière! Enquanto atores como o Marquito (muuuito engraçado!), o João e a Lucinha (principalmente quando a Frosina se disfarça no final) parecem se divertir com suas personagens, às vezes até tirando sarro delas, os outros ainda se sentem um pouco desconfortáveis nos papéis. O Elison, por exemplo, cria uma figura muito interessante com seu Harpagão, dono de tiradas hilárias ("O dote!"), mas na minha visão poderia de vez em quando quebrar esta postura do velho cansado para dar mais energia ao personagem e, assim, não pesar tanto em algumas cenas; mesmo a farsa pode mostrar facetas diferentes de uma mesma "máscara". E assim com todos os outros personagens. De modo geral, achei a peça pouco engraçada e isso, prá uma comédia, é fator preocupante! Uma das coisas que pensei foi se não era culpa da mistura que o Gilberto propôs: cada personagem num estilo diferente. De um lado o João e o Marquito (muuuito engraçado!) fazendo uma farsa, de outro o Lucas e a Daiane praticamente em um espetáculo realista, por exemplo... Não sei se foi viagem da minha cabeça, mas foi ao que assisti: um espetáculo no qual o diretor poderia ter sido mais centrado nas decisões e mais criativo nas soluções!
Ah, e claro, no meio de tudo isso, o figurino invejável de Daniel Lion! Lindo! (Apesar de achar que a roupa do Harpagão poderia ser mais velha, surrada...)

Mas enfim, fico feliz em ver que é a produção mais bem cuidada do Farsa a que eu assisto (provavelmente devido à grana que eles ganharam da FUNARTE; grana esta que, diga-se de passagem, demorou prá caralho prá sair, deixando os grupos e os artistas na mão! Vamos se ligar, né, Sérgio Mamberti?).


Daniel Colin - aquele que sabe que não é um crítico.

2 comentários:

Ariane disse...

Obrigado Dani. A opinião Sarcaustiana é extremamente importante pra nós! Valeu pela presença e pelo comentário! LOVO-OS!!!

Gilberto Fonseca disse...

Valeu, Daniel.
Também sinto que, às vezes, levei Molière a serio demais. Mas o espetáculo tende a se acertar, precisávamos da temporada e de escutar os bem intencionados. Ainda bem que tu és um deles.
Abraços.

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