Razões de sobra para comemorar
A montagem O Sobrado, dirigida por Inês Marocco, foi a grande vencedora do 4º Prêmio Braskem Em Cena. Os outros vencedores, anunciados na noite de segunda-feira, no palco do Theatro São Pedro, foram Zé Adão Barbosa (melhor diretor por A Arca de Noé), Daniel Colin (melhor artista masculino pela atuação em A Vida Sexual dos Macacos e O Médico à Força) e Araci Esteves (melhor artista feminina pela atuação em MarLeni).
Os méritos dos vencedores são evidentes. Marocco utilizou o espaço alternativo do antigo prédio dos Correios para reinventar a história da família Terra Cambará, recuperando o clima épico e telúrico, sem ranço, que caracteriza a obra de Erico Verissimo. Algumas irregularidades no elenco, formado por alunos do Departamento de Arte Dramática da UFRGS, não chegam a prejudicar sensivelmente a montagem, que tem destaque na atuação de Rodrigo Fiatt.
Zé Adão Barbosa já havia montado A Arca de Noé nos anos 1980, e o tempo melhorou ainda mais a montagem. Não foi à toa que ele insistiu que a premiação devia ser dividida com Marcelo Delacroix, que fez a direção musical: A Arca de Noé pode ser comparada a um brinquedo perfeito, uma caixa de música que oferece emoção e diversão à vontade e às mancheias. Alguns peças infantis chegam a desanimar quando se pensa que é aquele o primeiro contato das crianças com o teatro. A Arca de Noé é o contrário: o petiz certamente vai entender o palco como uma nau onde cabem todos os seus sonhos... e vai querer voltar.
A premiação de Daniel Colin como melhor ator se deveu objetivamente ao brilho e ao ecletismo que ele mostrou ao viver um obcecado pelas causas e efeitos da sensualidade (em A Vida Sexual...) e um mandalete divertidíssimo (em O Médico à Força). Mas, de alguma forma, é reflexo dos cinco anos que o grupo dele, o Teatro Sarcáustico, completou. Araci Esteves foi a melhor atriz por sua interpretação de Marlene Dietrich, em MarLeni – atriz consagrada, o papel de uma diva temperamental e irônica lhe caiu como uma luva de gala.
Os limites da premiação não devem, entretanto, esconder outros motivos de comemoração. Teresa e o Aquário, direção de João de Ricardo, abre um campo de experimentação que mistura teatro físico, recursos multimídia e dramaturgia sem concessões. Desvario, de Tainah Dadda, apesar de seus problemas de ritmo e de desenho dramático, entusiasma pela prazer do elenco em cena e pela disposição da diretora em incorporar a improvisação no trabalho final. Os dois espetáculos de dança – Ditos e Malditos (do Terpsí) e Mulheres Fortes em Corpos Frágeis (do Grupo Gaia) comprovam o bom momento dessa área ao buscarem inspirações e espaços diferenciados, usando o humor como elemento essencial em suas montagens.
RENATO MENDONÇA
(Opinião publicada no Jornal "Zero Hora" em 23/09/2009)
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