sábado, 9 de outubro de 2010

Performance: "Pes(o)soa de Carne e Osso"



"Pes(o)soa de Carne e Osso". Performance de Santiago Cao


“PES(O)SOA DE CARNE E OSSO”
(Texto traduzido praa o portugues por Bruna P. Jung)

Instalaçao Performática durante o festival MOLA (Mostra Osso LatinoAmericana de performances urbanas).
28 de Setembro de 2010.
Salvador de Bahía, Brasil.

¿Quanto pesa a carne? ¿E quanto pesa a pessoa a través da carne em uma sociedade que nega e anula as pessoas?
Na prostituiçao, mulheres e homens sao meros objetos de consumo.
Nas empresas nao ha pessoas; somente Recursos Humanos.
Na época colonial, os escravos eram tratados como simples mercadoria, nao como pessoas.

A proposta consistiu em instalar na vía pública a estructura de uma balança de 2,50 metros de altura e permanecer oito horas preso dentro de uma rede de pesca pendurado semidesnudo a um metro do solo. Como contrapeso, 80 kilos de carne e ossos pendurados em outra rede a escassos metros de mím. Esperando… simplesmente esperando ver que sucedía com as pessoas, enquanto meu corpo se ia desidratando e a carne apodrecia baixo ao sol.
Escolhi como lugar para realizar a açao, em uma calçada de uma praça localizada em pleno centro económico da cidade de Salvador de Bahia, Brasil. Um lugar caracterizado pela poluiçao de bancos, empresas e universidades, e circulado diariamente por um grande número de pessoas, automóveis e onibus.
De um lado da balança, escrito com carbono, se podía ler PES(O)SOA DE CARNE E OSSO, e do outro lado, a pregunta QUE PESA MAIS ¿A PESSOA OU A CARNE?
As oito horas que ia permanecer preso dentro da rede era uma referencia as 8 horas de jornada laboral em a qual as pessoas cedem diariamente 8 horas de sua vida a um sistema (uma rede) que lhes promete ter assím dinheiro para poder disfrutar das 16 hs restantes de seu día. 8 horas diarias de perder de forma consensual, a libertad.
Finalizamos a montagem da estrutura da balança as 9 da manha e pedi aos amigos que ajudaram-me, que se retirasem o mais distante possivel do lugar evitando de essa manera ser vistos pelos transeúntes e por ende, associados a açao. Sem nada a quem perguntar, as pessoas nao tinham mais opçao que aproximar-se e perguntar-me a mím.
“Que é isso?È um protesto ou è arte?” “Que quer dizer?, díganos” foram algumas das perguntas que se repetiram com mais frequencia. E frente a cada pergunta, simplesmente me limitava a observar-lhes com olhar silencioso. Pretendía com isso que as pessoas soubessem que os escutava, que nao os estava ignorando, estabelecendo assim uma comunicaçao. Mas ao mesmo tempo, ao nao dar-lhes uma resposta verbal, obtinha de eles e elas muitas mais perguntas e por ende, muitas respostas. “Está pagando uma promessa”, afirmavam alguns. “Ele nao pode falar” disse um homem, e outro agregou “Ele somente fala com os olhos”. Inclusive havìa uma senhora que afirmou que eu pertencia a uma religiao que nao come bonivos e que o que estava fazendo era exponer-me a essa situaçao para assím pagar as culpas das pessoas, motivo por qual muitos me agradeceram. E inclusive me pareceu escutar que um homem se aproximou e pediu-me que o abençoasse, por motivo de que falou en voz baixa e em portugués, nao pude entender bem se foi assím ou nao.
Outra pessoa tomou-me de objeto para começar a evangelizar aos que estavam ali presentes, reapropriando-se da açao. Dizia, com voz forte e amplos movimentos de seus braços, que o que estava sucedendo era “a pura verdade!” Que as pessoas estávamos presas no vicio da carne.
Algumas outras pessoas me preguntaram se tinha sede e se quería agua, a o que respondía movendo suavemente a cabeza indicando que sím. Bebí da garrafa que aproximavam aos meus labios e inclusive alguns me refrescaram o corpo ja dolorido e com calor excessivo, embaixo ao forte sol do meio dia, deixando cair a agua sobre minha cabeça.
Como as horas foram passando e a carne perdendo seus sulco, pouco a pouco minha pessoa foi pesando mais e inclinando-se a balanza para meu lado. Um idoso,, se aproximou e me disse em voz baixa “As 10 da manha, quando passei, os ossos e a carne pesavam mais. Agora, as 2 da tarde, que volto a passar por aquí, vejo que voce pesa mais. Será que finalmente a sociedade está mudando?”
Muita gente me rodeava entao e os que tinham mais tempo alí, respondían as perguntas que me faziam os que recèm chegavam, de maneira tal que se armou um debate entre eles. Uma mulher que se abriu passagem entre os corpos, se aproximou-se com uma garrafa para oferecer-me agua. Logo de tentar que lhe respondera o motivo da minha açao e escutar que alguem lhe dizia “Ele leva muitas horas alí sem falar com ninguèm”, perguntou-me se queria que me comprasse algo para comer. Como lhe indiquei que nao com um suave movimiento de minha cabeça, preguntei se quería beber mais agua ja que podía ir comprar mais uma garrafa antes de seguir seu caminho. Concordei e ela desapareceu por entre as pessoas. Regressou durante poucos minutos, e enquanto me oferecia agua, me perguntou se quería que me liberasse. Neguei com a cabeça a o que ela respondeu “Nao podes seguir estando assim embaixo do sol. Pode pasar algo ruim. Vou te soltar” y começou a incitar as pessoas presentes a que me liberassem.. Formou-se um debate. Alguns nao estavan de acordo, diziam “Nao lhe podem baixar, ele tem que pagar sua promessa”. E sucede que para a maior parte da populaçao de Salvador de Bahía, com sua grande herança africana e embebida cotidianamente no culto do Candomblé, o mais próximo para eles a uma performance, è o pagar uma promessa a um Orixá. E o que veem e entendem. E geralmente, se algo ou alguem rompe a cotidianidade do día com uma açao, assumem essa situaçao como tal, apoiados em muitos casos, desde a palabra, a quem está executando seu pagamento.
Mas a mulher conseguiu convencer aos presentes, e enquanto varios homens inclinavan com força a balança atè meu lado (agora “nosso lado”) aproximando-me ao solo, ela começou a desatar os nòs da rede. Mas como os minutos passavam e ela nao conseguía liberar-me rápidamente de alí, pediiu uma faca “Cadé a Faca!” gritou, y algumas pessoas foram buscar pelos postos de comida proximos. Alguem regressou com uma navalha e a mulher començou a cortar rápidamente um lado da rede, atè que o o buraco foi grande suficiente. “Agora, sim quer, ja pode sair”, disse. Mas ao tentar colocarme de pè, meu corpo nao respondeu. Me doiam minhas pernas e depois de cada tentativa caia novamente ao chao. Entao um homem me carregou como se fosse uma criança. E eu me deixei carregar sem oferecer resistencia. Queria deixar-me levar ate onde eles quisessem. Nao mexia nem sequer meus braços, deixando cair-me ao lado de meu proprio torso. Entao o homem que me carregava, tomou minhas maos e las levou a seu pescoço para que o abraçara, e assim, como se carregasse a uma criança dormindo, me rettirou de dentro da rede enquanto os demais ainda tiravam da mesma os ossos e a carne, presentes em, na rede do outro extremo, elevavam o mais alto possivel, quase como se voassem sem peso. Entao o homem me levou a um banco próximo mas as pessoas começaram a gritar que nao, que ali nao. Que o banco em baixo do sol estava quente e que podía queirmar-me. Entao me levou a outro banco em baixo da sombra de algumas arvores e com suavidade me deixou ali recostado. Meu corpo doia muito. Dentro da rede, havia tentado perder a consciencia dele, evitando assim sentir a dor. Mas agora…cada movimiento era doloroso. Estive ali por mais de 10 minutos, atè que Juan, meu amigo que havia estado fotografando, se aproximou correndo- Era a única pessoa da produçao presente no lugar, e sendo neste momento descuberto pelas mulheres tomando fotos a uma distancia, havia optado por esconder-se evitando convertir assim la açao em espetàculo. Haviamos falado ja muito sobre isso e de cómo as vezes a camera de fotos o videos presente no lugar pode ser associada a la açao modificando-a. Mas desde onde ele estava, ninguèm o via, mas tambèm ele nao via nada, assim que se surpreendeu quando observou que uma das redes jà estava vazia antes de que se cumprira as 8 horas pautadas e que um grupo numeroso de pessoas me rodeava no banco. Acreditando que me havia desmaiado, veio correndo com agua. Mas sua preocupaçao desapareceu quando nos olhamos mutuamente e lhe indiquei com meu dedo índice que seguisse tomando fotos. Um código que por sorte ele compreendeu rápidamente. Me deixou a roupa dentro de uma sacola e voltou a desaparecer. Eu segui um tempo mais ali, tentando recuperar o movimiento de meu corpo. Uma mao foi colocada em meu ombro direito. Virei minha cabeça e vi a mulher que havia iniciado o proceso de liberaçao. Se aproximou do meu ouvido vindo por detrás e disse “Nao sei qual era tua ideia, mas se teu propósito era comover as pessoas, conseguiste. A gente nao pode seguir seu caminho deixando morrer a alguem baixo ol sol”. Olhamos nos olhos um do outro e lhe agradeci, esta vez com palabras. “Gracias”, lhe disse, e com um aperto de maos antes que ela desaparecesse entre as pessoas.
Um metros adiante, a balança quase nao tinha espectadores. Jà sem meu corpo fazendo contrapeso, os ossos e a carne ficaram pelo chao ainda presos, enquanto a rede que me tinha retido se balançava no alto, movida suavemente pelo vento.
Feliz y emocionado com essa metáfora, me vesti e me afastei pouco a pouco deixando as pessoas falando entre elas.
Una imagen, pouco antes de sair da praça, me entristeceu. Um homem negro estava durmindo no chao. Sozinho. Com roupas velhas e rasgadas. Sem ninguem a sua volta. Invisivel para a sociedade.



Mais fotos no Facebook do cara.

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