segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Breves comentários sobre as "Breves Entrevistas..." - Parte IV

"Breves Entrevistas com Homens Hediondos. O que dizer de um espetáculo que te deixa sem palavras, do início ao fim. Tive que esperar para escrever o que achei agora, pois o espetáculo ainda era um turbilhão de informações em minha cabeça até hoje de manhã. Não, não é um espetáculo. É um serviço, um favor que o Teatro Sarcáustico nos faz ao jogar tudo na nossa cara. Todos estão maravilhosos em cena, maravilhosos mesmo! Eles realmente estão jogando todas aquelas confissões que poderiam ser minhas, sua, do seu pai ou de qualquer um. A luz é espetácular em sua sutileza e a trilha é igualmente incrível. O cenário dá uma sensação de que você está preso lá, ouvindo aqueles homens despejando tudo, e você só vai sair quando eles acabarem. Tenho que dar enfoque especial à última entrevista. Aquele momento de sufoco, tristeza, raiva nos faz sentir nojo da humanidade. É um espetáculo que todos deviam ver e com certeza, aqueles que entenderem o trabalho, vão sair de lá pessoas diferentes. Parabéns Daniel Colin, Guadalupe Casal, Ricardo Zigomático e Rossendo Rodrigues. Vocês me fizeram sentir vergonha por eu ser um ser-humano e eu agradeço imensamente! Muito obrigado!" (Vitório Oliveira Azevedo,ator, via Facebook)



"Breves Entrevistas com Homens Hediondos é um espetáculo complexo. Tão multifacetado quanto o livro de David Foster Wallace. Mas o livro, na minha opinião, não é tão bom. As entrevistas de Wallace dão um cansaço no leitor: lá pelas tantas fica difícil diferenciar umas das outras, tamanha a obsessão por certos temas. Já na adaptação do Sarcáustico, cada cena é um golpe inesperado. Assistindo pela segunda vez, acho que entendi de onde vem a força desses golpes. Trata-se de uma experiência semiótica: as máscaras de ‘lucha libre’ são o primeiro indício de que se trata de violência coreografada, controlada, contida. O que se confirma na movimentação dos atores pelo palco, igualmente controlada, coreografada, contida no pequeno espaço cênico do Teatro de Arena. E na constante reconfiguração das estruturas metálicas – às vezes grades, às vezes cercas, às vezes guias, sempre limitadoras. Trata-se de um estudo sobre patologias diversas: do neurótico Johnny Bracinho (único nomeado), auto-apelidado e falso cínico, ao devastado leitor de Viktor Frankl que encerra o espetáculo, passando pela ‘feminista hífen pós feminista’, não há personagem que não exponha uma fratura de caráter assustadora. Trata-se de uma comédia: no sentido patético do termo. Situações, certezas declaradas e jogos demagógicos que beiram o ridículo são, por isso mesmo, motivo de riso tenso, que não relaxa o espectador mas dá um certo respiro. Trata-se de uma tragédia: a experiência demasiadamente humana, sugerida por Wallace e explicitada pelo Sarcáustico coloca diante do espectador sua própria precariedade. A identificação é instantânea. Somos tão hediondos quanto qualquer um dos personagens. Em seus longos discursos, o que parecem dizer o tempo todo é “não sou melhor que você. Nem pior”. Daí a sensação de catarse adiada, que talvez persiga quem sai do Teatro de Arena durante o resto da noite, da semana, do mês.

Obrigado ao Rossendo, ao Daniel, à Guadalupe, ao Ricardo e à equipe técnica por tanta intensidade."
(Fabio Pinto,professor de literatura, via email)

2 comentários:

Anônimo disse...

engraçada a observação do Vitório...saí do teatro com cada personagem estreitado ao peito e com uma tremenda felicidade de ser quem eu sou, de saber que caminham por aí tantos outros como eu.
Outro comentário: a última cena forja uma outra tão comovente quanto, que se dá na platéia. Em 2 das 3 apresentações que eu vi, tive certeza que uma das espectadoras já passou por um abuso semelhante ao citado na peça.
Abraços, e parabéns pela peça

Fabio Bortolazzo Pinto disse...

Essa impressão sobre o efeito da última cena é realmente perturbadora.

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