sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Daniel Colin por P.R.Berton

Em 2004, eu participei do elenco do espetáculo "Cloud Nine - Muito Prazer", com direção de Paulo Berton, ex-professor meu do DAD/UFRGS. Atualmente, Paulo está em exílio (como ele mesmo intitula) nos EUA, mas já está quase voltando pois acabou de defender a sua tese de doutorado.
Não sei se é o peso do exílio, mas o fato é que ele começou a publicar em seu blog uma série de posts que ele denominou de "BOAS MEMÓRIAS DO TEATRO GAÚCHO" e eis que o último, o de nº. 6, foi dedicado à minha pessoa. Eu, particularmente, fiquei muito feliz com as palavras do Paulo, porque, como ele mesmo disse, a gente raramente concorda em questões estéticas e profissionais, mas ainda assim respeitamos um o trabalho do outro. Além disso, foi demais que as boas memórias do Paulo conseguiram (re)alimentar as minhas boas memórias, criando uma rede de recordações preciosas. Valeu, P.R.!
Abaixo, as palavras do Paulo sobre este que vos escreve:


"Daniel Colin parece ser a nova sensação do teatro gaúcho. Nova? Nem tanto. Desde que atuava nos espetáculos do Depósito de Teatro, ele já dizia a que veio, e a partir de Gordos, ou Somewhere Beyond the Sea, de Nicky Silver, projeto dele de graduação em interpretação no DAD, o cara estourou pra celebridade. Naquele espetáculo, Daniel atuava e dirigia. O visual era impecavelmente minimalista, se limitando às cores verde e branca. A marcação era também calculada e geométrica, apesar da característica intencidade (!?) e vigor das performances. Principalmente da de Daniel. Agora, com o seu grupo teatral, o Sarcáustico, uma regularidade de produção saudável vem se repetindo, com peças como IntenCIDADE, Jogo da Memória, A Vida Sexual dos Macacos e recentemente, Wonderland. Todo mundo cansado de saber que por eu estar no exílio, perdi estes últimos. Mas isso não importa e não prejudica o que eu tenho a dizer desse ator que é um misto de Grotowski, Schechner e Macunaíma. Daniel é glorioso em cena. Se alguém se interessa por teatro físico (um termo imbecil por ser redundante), qualquer atuação de Daniel satisfaz, enchendo os olhos e a alma. Em Dr. QS, Quriosas Qomédias, dirigido pelo Roberto, um dos sacerdotes do teatro gaúcho (calma, vai chegar a vez dele aqui no blog), Daniel estava em todos os lugares do espaço cênico ao mesmo tempo. Tomado pelo espírito mercurial de Puck, ele rolava, escalava, gargalhava, suava e escorria. Com uma physique pra lá de felliniana, o que qualquer performer gostaria de ter, suas múltiplas personagens faziam misérias, sempre com um sorriso sarcástico (ops!) de lambuja. Entretanto, pra mim, Daniel vai estar sempre povoando as minhas boas lembranças como a dobradinha Clive/Cathy no já canônico texto de Caryl Churchill Cloud Nine, Muito Prazer...que eu dirigi em 2004. Antes de começar a babar mais um pouco, faço questão de revelar que ele tem uma ética fora do comum. Mesmo discordando de quase todas as minhas decisões em relação ao texto e a performance, Daniel respeitava e entendia o meu processo de criação. A prova disso era que em nenhum momento eu percebia qualquer dissonância entre a minha estética e o trabalho de ator dele. Quanto às criações de personagem na peça, puta que o pariu, estas sim merecem a posteridade. Clive era o senhor colonial britânico enrijecido, militarizado e eretômano. Cathy era uma menina londrina espoleta, inconsequente e imunda. Pular duma personagem pra outra, com tamanha habilidade, não é pra qualquer um. Em tempos de lástimas por ausências de nomes nas indicações dos prêmios para teatro em Porto Alegre, fica o registro do criminoso desprezo com um trabalho de criação duplo e inebriante. O Clive dele era bárbaro, mas Daniel - que me confessou que adorava fazer Cathy - num vestidinho verde e roxo, cruzando o palco com uma arminha de plástico, ou choramingando porque um outro menino roubou o sorvete dele são cenas que pra quem perdeu, uma lástima. Brinco com ele que por ter sido indicado não-sei-quantas-vezes-já-perdi-as-contas pros tais prêmios Açorianos e Tibicuera da Prefeitura de Porto Alegre, ele é a Sally Field gaúcha. Daniel, porém, prefere ser considerado a Katharine Hepburn dos pampas. Muito justo, pra esse santista exilado que só tem a contribuir pro enriquecimento e engrandecimento do teatro brasileiro."



***Prá quem quiser ler as outras BOAS MEMÓRIAS (no caso, os atores Marcelo Adams,
João de Ricardo, Tiago Real, Sandra Possani e Heinz Limaverde) ou conhecer melhor as elocubrações do P.R.Berton, clica no blog deste germano-gaúcho.

***PS para o P.R.: Queira saber que a tal da Cathy ainda aparece aqui na minha casa, com seu jeito mimado de ser... hehehehe

2 comentários:

Maico Silveira disse...

Cathy! Cathy!

Ela é forte concorrente ao prêmio "Melhor personagem do Dani da década"!

Adoro quando ela aparece de repente!

Arrasou, cumpadi! É uma maravilha ver esse reconhecimento a ti. Daniel Colin é gente que faz!!!

:)

Aline Grisa disse...

Amor antigo, agora declarado abertamente para o mundo ver, hahaha!
Daniel Colin e Paulo Berton! Os opostos se atraem!
Concordo em gênero, número e grau com o Paulo. O Dani é o cara!

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